Todos os dias surgem nas redes sociais novos remédios naturais e mezinhas que prometem resultados milagrosos na perda de peso e na queima de gordura. Num vídeo divulgado no Facebook, partilha-se, por exemplo, a receita de uma bebida caseira supostamente eficaz a queimar “gorduras velhas” e a acelerar o processo de emagrecimento.

“Olá, pessoal! Quero dividir a minha experiência e agradecer ao método que me auxiliou a alcançar as minhas metas de melhorar a minha saúde e bem-estar. Após ajudar alguns parentes e amigas próximas, decidi compartilhar com outras pessoas que possam estar interessadas. Se você estiver curiosa sobre o método que utilizei e quiser saber mais informações, fique à vontade para acessar em ‘saiba mais’”, anuncia-se no post que remete para o vídeo em causa.

É nesse vídeo que são partilhados testemunhos de várias mulheres – como o de uma “dona de casa” que, supostamente, “secou 12 kg sem esforço” com esta bebida caseira – e a promessa de perda de peso de até 16 quilos por mês.

No final do vídeo, revela-se a receita da “bebida quebra gordura” – que consiste em misturar a substância “galato 3” com água – e sugere-se que para alcançar os resultados pretendidos deve beber-se esta mistura duas vezes por dia. Mas será esta receita, de facto, eficaz?

Esta bebida caseira é mesmo capaz de levar à perda de até 16 quilos por mês?

Não, não existe evidência científica que comprove que esta bebida caseira permita queimar “gorduras velhas” ou levar à perda de até 16 quilos por mês.

Em primeiro lugar, importa explicar que a substância descrita no vídeo como galato 3 corresponde à epigalocatequina-3-galato (EGCG), uma das principais catequinas ativas presentes no chá verde.

Numa metanálise publicada em 2010 no “International Journal of Obesity”, sugere-se que as catequinas ou uma mistura de EGCG e cafeína poderão ter um “pequeno efeito positivo” na manutenção e perda de peso. 

No entanto, nada neste trabalho aponta para a possibilidade de o EGCG por si só permitir uma perda de peso tão significativa como a descrita no vídeo em análise, ou seja, que leve à perda de até 16 quilos por mês.

Quais os riscos desta bebida caseira e das receitas para perder peso rápido?

Em declarações ao Polígrafo e ao Viral, a Ordem dos Nutricionistas alerta que, “apesar de serem substâncias autorizadas, da evidência científica atual resultam algumas incertezas quanto a possíveis efeitos nocivos para a saúde, considerando um consumo acima dos 800 mg de EGCG proveniente de extratos de chá verde”.

É por esse motivo que “estão definidas condições muito específicas para a sua utilização, advertências obrigatórias para grupos vulneráveis de consumidores e informação quanto ao modo de consumo no dia a dia”.

Nesse sentido, foi publicado a 1 de dezembro de 2022 um regulamento “que altera o anexo III do Regulamento nº 1925/2006 do Parlamento Europeu no que diz respeito aos extratos de chá verde contendo EGCG e que impõe um conjunto de restrições ao uso destes extratos nos alimentos”.

A Ordem dos Nutricionistas assinala ainda que este tipo de “soluções rápidas” de emagrecimento publicitadas online podem “acarretar sérios riscos para a saúde de quem as segue e implementa”.

“É essencial procurar fontes fidedignas de informação”, sublinha a mesma fonte.

Quando o objetivo é perder peso, a Ordem dos Nutricionistas recomenda que se procure “ajuda de um profissional de saúde, em particular do nutricionista, que irá implementar estratégias de orientação nutricional e definir uma abordagem individualizada, com vista a promover uma perda de peso saudável”. 

Este tipo de “fórmulas” que parecem ser milagrosas, ainda que possam trazer resultados “no imediato”, têm riscos associados e “a médio/longo prazo podem ser prejudiciais para a saúde”.

Em suma, não existe evidência científica de que o uso de EGCG possa refletir uma perda tão significativa quanto a apresentada no vídeo. Além disso, tal como avisa a Ordem dos Nutricionistas, este tipo de receitas caseiras que prometem resultados rápidos e de grande magnitude “podem acarretar sérios riscos” para a saúde.

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Este artigo foi desenvolvido no âmbito do European Media and Information Fund, uma iniciativa da Fundação Calouste Gulbenkian e do European University Institute.

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